Muito se fala no Brasil sobre a (má) qualidade – no geral – da nossa Educação.
Olhamos muito para a realidade já instalada nas salas de aula (ou para quem deveria estar dentro de uma delas e não está) e pouco nos preocupamos com a qualidade da preparação que está sendo oferecida àqueles que, um dia, pretendem estar à frente de uma turma de aprendizes.
Não é novidade para ninguém que a situação dos cursos de Pedagogia no país é sofrível (para usar um termo não muito agressivo). Todos sabem que este curso atrai, em geral, os aspirantes a universitários que apresentaram as notas mais baixas do ENEM. A pergunta diante disso é: ainda que os currículos dos cursos fossem extremamente atualizados (o que passa longe da realidade vigente), o que fazer diante da condição inócua de conhecimento daqueles que pretendem – um dia – transmiti-lo?
De acordo com contas feitas por especialistas da área, nas próximas décadas serão cerca de 2.000.000 de crianças de cada faixa etária em nossas escolas públicas.
Suponhamos que haja um média de 20 crianças em cada uma dessas futuras classes e, respectivamente, um(a) professor(a) responsável. Para dar conta de dessa demanda seria preciso que, a partir de já, começássemos a preparar 100.000 professores para cada série, desde a pré-escola até o Ensino Médio.
A conta acima convergiria para resultado da ordem de 1,4 milhão de novos professores.
Só para você ter uma ideia, hoje temos mais de 2,2 milhões de mestres, e muitos deles com carga horária dobrada.
Mais uma conta para você pensar aí: posto que, em média, os professores trabalham 30 anos, a necessária reposição periódica consumiria em torno de 3% do total de recém-formados na área de Educação, ou seja, a cada ano, cerca de 50.000 novos professores assumiriam suas classes.
Ok, mas quantos se formam hoje?
De novo, segundo dados oficiais, são mais ou menos 125.000 os formados, anualmente, apenas nos cursos de Pedagogia.
“Ah, mas então dá até sobra”, pensou você aí.
Ledo engano.
O que temos hoje é muita quantidade para pouquíssima qualidade.
Para que possamos mudar a radiografia da Educação no Brasil, primeiro precisamos agir na raiz do problema, ou seja, desenvolver mecanismos que atraiam jovens qualificados entre os melhores de sua geração. Depois, é necessário conseguir mantê-los, pelo menos durante alguns anos, na carreira.
Sim, porque – deixa a gente te situar – sabe aquele antiiiigo conceito que dá conta de que alguém que inicia, hoje, a vida profissional, vai, claramente, se aposentar na mesma carreira?
Já era.
Simplificando, bastante, a história toda: antes de reclamarmos da situação lamentável da Educação no Brasil, precisamos trabalhar – duro e desde já – pela (excelência em) formação dos que serão responsáveis por ela daqui a pouco.
[Fonte: Veja.com]